CGMEB REGIONAL ARARAQUARA-SP

Índice

Introdução

1 O Cristão e a Ética

2  A Bíblia: Compêndio da Ética Cristã

3 Ética cristã na conduta diária

4  A Ética Cristã no Culto

5 A Ética cristã na família

6 Ética Cristã e a Espiritualidade

Quando falamos sobre ética, não estamos alheios ao assunto, pois, temos ouvido esta palavra quase que quotidianamente nesses tempos de tantas cobranças e suposições.

A cobrança de posturas éticas vem da parte da sociedade em todos sentidos. Parece que há um clamor pela ética, entretanto, esse clamor revela ausência dessa virtude tão necessária para todas as épocas. O clamor do mundo mostras que a Igreja deve encarar o tema com bastante seriedade e responsabilidade mediante as Escrituras Bíblicas.

A popularidade da Bíblia a faz ser o livro mais lido e publicado do planeta. E temos a satisfação de incluí-la nesta série de lições como o livro-texto, pois ela é o único manual do crente na vida cristã e no propósito do Senhor. O crente foi salvo para servir ao Senhor (1Ts 1.8,9; Ef 2.10).

Sendo a Bíblia o livro-texto do cristão, é importante que este a manuseie bem para o eficiente desempenho de sua missão (2Tm 2.15). Um bom profissional sabe empregar bem as ferramentas de seu ofício. Essa eficiência não vem de forma automática, mas pelo estudo e pelas ações na prática.

Não estaremos aqui nos estudos esgotar o assunto, mas, traremos uma amplitude da visão que na qual o cristão, servo do Senhor, posso se orientar a seguir com mais fidelidade aos escritos bíblicos.

1. O Cristão e a Ética

”O temor do Senhor é o princípio da sabedoria, mas o loucos desprezam a sabedoria e o ensino”. Pv 1.7

Verdade aplicada

A ética cristã tem como base o temor do Senhor, sem ele, nossa relação com Deus e com o próximo ficam prejudicadas.

Objetivos do estudo

  • Conceituar ética cristã
  • Estabelecer os limites da ética cristã
  • Revelar exemplos éticos na Palavra.

Leitura efetiva

  • Pv 2.1-9

Leituras eletivas

  • Segunda: Lv 19.11
  • Terça: Sl 132.2
  • Quarta: Pv 14.5
  • Quinta: Mt 7.12
  • Sexta: 2Co 3.8
  • Sábado: Ap 22.15

O conceito filosófico – Como conceito, a filosofia moral é a investigação científica de julgamentos morais. Dentro deste parecer filosófico a definição mais expressiva é: “A ética é a conduta ideal do indivíduo”. Segundo a definição de Aristóteles[1], todas as instituições humanas são ramos da ética porque todas têm alguma coisa a ver com a atuação do homem dentro da sociedade.

O conceito político – Estamos vivendo momentos de cobranças éticas em todos os sentidos, principalmente no meio político. Esta ausência gera o descrédito da população em relação à postura profissional dos políticos. Um governo não pode exibir uma ética apenas empírica[2]; pois os padrões éticos são pré-determinados pela mente divina; portanto, devem ser progressivos e sistemáticos.

O conceito bíblico – Que pode a moral bíblica obter da ética filosófica? Uma resposta óbvia é que a Bíblia fornece a nós um vasto repertório de material ético em diferentes formas literárias e de diferentes contextos históricos e culturais.

Temos um sumário nos Dez Mandamentos, uma casuística aplicação de caso no Código Mosaico; sabedoria em epigramas nos Provérbios; reflexões sobre o significado da vida e valores no livro de Eclesiastes; pregação de justiça social nos profetas; sermões dirigidos aos homens nos Evangelhos e afirmações sistemáticas nas epístolas de Paulo. Um homem que estuda a Bíblia, consequentemente é envolvido pelos preceitos éticos nela prescritos e deles se alimentam e segue. (2Tm3.14,15).

Nos dias atuais, não difere das definições já expostas, tais como conduta ou prática de vida. Temos uma boa referência em 1Co 15.33 quando Paulo diz que: “as más conversações corrompem os bons costumes”. Tradução da expressão grega: “Ethics”, — palavra que denota as exigências da Ética Cristã. O conceito nos estudos, encontra-se fundamentalmente na Bíblia Sagrada, que nos faz refletir e ensina a maneira correta e aceita de vida e conduta.

A conduta moral — A ética traz os argumentos básicos para que se possa conhecer os princípios de tomadas de decisões, como também a introdução à revolução moral no ser humano. Leva também ao conhecimento moral das obrigações, dos direitos humanos, das punições impostas aos infratores, no sexo e no casamento. O que faz do homem um ser imoral? Teologicamente como resposta cabal podemos dizer que é a ausência de Deus na vida. Quem tem a mente de Cristo não mente, não mata, não rouba, não comete adultérios, etc. (1Co 2.16)

A conduta cristã — Normalmente quando alguém se identifica como cristão; o nome já requer atitudes éticas, tendo em vista que o livro texto do cristão é a Bíblia Sagrada. Esse conceito pode nos deixar pensativos no que tange ao que não devemos fazer. Mas o propósito do nosso viver deve ser aquele que Pedro repetiu em sua epístola: “Sede santos, porque Eu Sou Santo” (1Pe 1.16).

O conceito de viver de uma forma santa significa mostrar nas suas boas ações de cristão o exemplo encontrado na vida e ensinamentos de Jesus.

A conduta pessoal — A ética é a ciência da conduta ideal. Aborda a conduta ideal do indivíduo, isto é, nossa responsabilidade primária. Os Evangelhos nos ensinam que a transformação moral nos conduz as perfeições de Deus Pai (Mt 5.48). E daí, parte-se para a transforma­ção de acordo com a imagem do Filho de Deus (Rm 8.29; 2Co 3.18). Precisamos cuidar de nosso próprio desenvolvimento espiritual como indivíduos. Essa transformação reflete em nossa conduta pessoal, pois a conversão cristã gera essa transformação na vida do ser humano direcionando-o a ética pessoal (2Co 5.17).

Numa sociedade corrompida, a Ética Cristã, gera impacto porque trabalha em sentido contrário. Quando um cristão se recusa a mentir, se drogar ou cometer adultério, revela a sua submissão ao Espírito Santo (Lc 14.33). Nesse caso, a Ética Cristã supera as demais éticas, pelo fato de ser gerada pela presença do Espírito Santo (Gl 5.25 “Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito”). O maior impacto da ética no novo convertido surge através da mudança de comportamento, chamamos de “regeneração”. O novo convertido demonstra sua nova vida através da ação do Espírito de Deus no seu interior; como disse Paulo “nova criatura” (2Co 5.17), ou como disse o Senhor Jesus: “Aquele que não nascer de novo” (Jo 3.3).

Vivemos em sociedade e devemos aplicar a ética cristã aprendidada com o Senhor. Jesus disse em Mateus 5.13,14: ”Vós sois o sal da terra, e a luz do mundo”. Os dois valores do sal são: o sabor e o poder de preservação. O cristão, portanto, deve ser exemplo para o mundo e, ao mesmo tempo, deve militar contra o mal e a corrupção na sociedade. O sal também representa as ações de ordem e equilíbrio que os cristãos exercem na sociedade.

Outro fato importante [e a tragédia dentro do lar que começa quando perdemos alguns valores (Lc 15.9s “Alegrai-vos comigo, porque achei a dracma que eu tinha perdido”). Quando coloca-se prioridade para a Palavra e a Oração, certamente, os valores éticos ressurgem pela ação divina. Para encontrar a moeda perdida, a mulher, em Lucas 15, teve de fazer três coisas fundamentais: “acender a candeia; varrer a casa; e buscar até achá-la”. Mediante ao fato temos que perseverar e trabalhar arduamente para buscar novas ações em nosso lar e transmitir a revelação em Jesus sobre a verdadeira vivência na família, na igreja e na sociedade.

Não somente o Novo Testamento, como toda Bíblia está repleta de exemplos éticos, tendo em vista que ela é um manual irrepreensível. Procuraremos demonstrar apenas três exemplos de ética no N.T., mas devemos procurar outros exemplos éticos em toda Bíblia, afinal ela é nosso manual por excelência. Já pensou se todos os crentes infiéis morressem iguais a Ananias e Sa­fira? (At 5.10). Que tragédia! A morte de Ananias e Safira ficaram como exemplos perpétuos da atitude de Deus para com qualquer coração enganoso entre aqueles que professam ser cristãos (At 5.11). (ler Hb 4.13)

Exemplo de Zaqueu — A confissão genuína do pecado é a verdadeira fé, que produz salvação em Cristo e resultam na transformação da conduta interna da pessoa (Rm 10.9). Zaqueu demonstrou arrependimento e conversão com uma atitude espontânea de restituir e repartir os bens. A presença de Cristo na vida o transformou em um homem ético com exemplos práticos de uma nova vida, se desprendeu de coisas que o escravizava (Lc 19.8).

Exemplo de Paulo a Filemom — Paulo escreveu esta carta da prisão (Fm 1.9) a um homem chamado Filemom, provavelmente durante sua primeira prisão em Roma. Filemom era um Senhor de escravos (Fm 1.16) e membro da Igreja de Colossos. Onésimo era um escravo de Filemom que fugira para Roma; ali, teve contato com Paulo e entregou sua vida a Jesus. Paulo dentro da ética devolve a Filemom o seu escravo Onésimo com uma carta de intercessão. Certamente Onésimo seria muito útil a Paulo na prisão, mas não era ético ficar com ele.

Cobrança de um viver ético — A Bíblia mostra Ananias e Safira que combinaram vender uma propriedade e entregar parte do valor como se fosse o todo (At 5.2). Seu verdadeiro objetivo era obter prestígio e mentiram diante da Igreja a respeito de suas contribuições (At 5.3). O Senhor considerou um delito grave contra o Espírito Santo disciplinando-os com a morte (At 5.5).

Conclusão

O conceito de ética cristã sobrepuja todos os demais conceitos, pelo fato de ser embasado na Bíblia. Somente o cristianismo dogmático reúne as condições necessárias para a moralidade a vida societal digna de um Deus que tudo criou. Só o Senhor pode estimular uma vida de recuperação do ponto de vista ético ideal no ser humano. Precisamos adotar os preceitos divinos e seguir nos dogmas que a Palavra nos ensina.

Sejamos éticos em nossa maneira de viver!

Glossário

  • Conceito filosófico: afirmações teóricas sobre um determinado assunto ou tema
  • Código Mosáico: são as nomas e os preceitos contidos na tá-bua da Lei, dada a Moisés.
  • Infratores: São todos que violam as regras ou leis.

[1]  o grande pensador grego que iniciou o período sistemático da Filosofia Antiga, fundou o Liceu e foi discípulo de Platão.
[2] Que se pauta ou resulta da experiência

2. A Bíblia: Compêndio da Ética Cristã

“Lâmpada para os meus pés e a tua Palavra e Luz para o meu caminho”. Sl 119.105

Verdade aplicada

A ética cristã tem como base o temor do Senhor, sem ele, nossa relação com Deus e com o próximo fica danificado.

Objetivos do estudo

  • Conceituar ética cristã
  • Estabelecer os limites da ética cristã
  • Revelar exemplos éticos na Palavra.

Leitura efetiva

  • Sl 119.9-16

Leituras eletivas

  • Segunda: Lv 19.11
  • Terça: Sl 132.2
  • Quarta: Pv 14.5
  • Quinta: Mt 7.12
  • Sexta: 2Co 3.8
  • Sábado: Ap 22.15

A Bíblia como compêndio de ética está explícita em 1 Pe 3.15; 2Tm 2.15; Is 34.16; Sl 119.130. Isto nos conduz a dois pontos de suma importância: Por que devemos estudar a Bíblia e como devemos estudá­la? Segundo o professor H. Richard Nieburhr[1], a Bíblia sempre foi, e indubitavelmente continuará sendo, o livro básico para o estudo da Ética Cristã. Devemos lê-la a fim de adquirir sabedoria, praticá-la para crescer na santidade e crer para ser salvo.

Manual para geração passada — A palavra de Deus tem sido um ponto de equilíbrio para a humanidade, principalmente para seu povo (Dt 30.14). A ética do A.T. interessava-se, com o modo de vida que a antiga aliança prescrevia e aprovava (Ex 20). Para o hebreu, a ética (costumes) não era um conceito abstrato, mas concreto e sempre relacionado com a disciplina, o ensino e o modo de vida do indivíduo.

Manual para geração presente — A Bíblia elabora uma série de “ais” para aqueles que a desprezam (Lc 10.13; 11.44; 17.1). A geração do presente século precisa entender que a Bíblia instruí e alimenta a alma (Mt 4.4; Jr 15.16: 1Pe 2.1,2). O estudo da Palavra de Deus traz nutrição e crescimento espiritual. O texto de 1Pedro 2.2, fala do intenso apetite do recém-nascido, relacionando-o com o nosso desejo pela Palavra da Verdade. Bom apetite pela Bíblia é sinal de saúde espiritual.

Manual para as gerações futuras — Assim como a Palavra de Deus mudou a vida de muita gente, com provas riquíssimas descritas pela história, temos argumentos para dizer que continuará mudando vidas nas gerações futuras. Abraan Lincoln disse: “Creio que a Bíblia é o melhor presente que Deus já deu ao homem”. Todo o bem, da parte do Salvador do mundo, nos é transmitido mediante este livro. As gerações futuras terão que se basearem na Bíblia pelo fato de ser um livro profético e sempre atual (Sl 119.111 “Os teus testemunhos, recebi-os por legado perpétuo, porque me constituem o prazer do coração”).

É impressionante a mudança que a Palavra gera na vida das pessoas (1Pe 1.3-4). Nós mesmos, certamente, temos um relato positivo da influência que a Bíblia teve e continua tendo em nossa vida  (Pv 2.1-5).

A Bíblia ao decorrer do tempo foi perseguida por homens ímpios que caíram, foi rejeitada por nações, ditadores, que fracassaram ao destruí-la, foi vilipendiada por homens como Antíoco (198 a.C.) ou Voltaire (1694-1778), e tiveram um fim trágico.   Contudo ela vive porque seu Autor vive. (Mc 13.31 “Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão”)

Muitos reis e príncipes foram beneficiados pela Palavra de Deus (Pv 3.13-16). Os vários desvios da nação de Israel surgiram em consequência da ignorância na Palavra (2Cr 36.16). Por outro lado, quando o rei buscava o Senhor e voltava-se para a Palavra, a nação prosperava (2Cr 26.5). Essa é uma constante da história de Israel “queda e levantamento”. Na época dos juízes, temos vários relatos das consequências desastrosas da desobediência de Israel (Jz 21.25). Josué recebeu sérias recomendações para observar os preceitos da Lei do Senhor (Js 1.7-8); sua obediência lhe valeu o sucesso na vida. Nos tempos de Esdras, conforme plano de Deus, Zorobabel conduziu um grupo de remanescentes judeus exilados de volta a Palestina. Ali, o Senhor, encarrega Esdras, o sacerdote para promover a maior reconstrução espiritual “o retorno a Palavra” (Ne cap.8). Esse capítulo descreve um dos maiores avivamentos da história. A Palavra de Deus remodelou seu povo e gerou em seus corações uma grande fome espiritual, mudando suas atitudes pecaminosas e renovando suas forças (Ne 8.5-6,10). Na vida dos profetas eram movidos pela Palavra resultante da inspiração divina. A inspiração, de acordo com 2Pedro 1.21 é a tradução do termo grego ”Feromenoi” com o sentido de mover e suportar, ou ser dirigido segundo a vontade de outrem. O Espírito Santo é a fonte da profecia, capacitando os profetas a falar e escrever como representantes de Deus (2Tm 3.16; 1Pe 1.10-12). Feromenoi era usada também para suportar, transmitir ou anunciar uma proclamação divina.

O ministério do ensino se expõe de maneira incisiva e clara nas Escrituras (Ex 18.20; Lc 19.4-7). O propósito e os métodos deste ministério podem ser vistos tanto no Antigo como no Novo Testamento. Jesus, disse: “A minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou” (J o 7 .16). Esta declaração veio dos lábios do próprio Jesus, revelando o propósito da Palavra como manual de ensino.

No Antigo Testamento, nos tempos da Lei, não era ensinado apenas para desenvolver o intelecto, mas para comunicar e ensinar a viver de acordo com suas crenças e de acordo com as éticas bíblicas (Ex 20.1-17; 21.1-16). O conceito que se tem, a simples vista do ensino do A.T., é que apenas os israelitas tinham que aprender longos relatos de seus antepassados e históricos de suas experiências na trajetória até a terra de Canaã (Dt 4.1). Mas, na verdade, o conceito do ensino e do aprendizado haveria de se expandir a outras nações, mas, o povo israelita não entendeu.

Também temos no Novo Testamento muitas referências para a prática da ética cristã. A palavra “Didasko” é geralmente usada quando se trata de instrução verbal (aprender), no entanto, também pode ser usada como “mostra-nos”. Outras vezes esta palavra tem duplo sentido: ”fazer e ensinar” (Mt 5.19; At 1.1). Também pode ser traduzida como “se instruir mutuamente” ( Cl 3.16). Por outra lado temos a palavra “Paideúo”, que  dá ideia de educar uma criança (At 7.22; 22.3). Também implicam neste ensino, disciplina e correção (I Co 11.21; I Tm 1.20; Tt 2.12). Portanto é imprescindível transmitir ensinamentos bíblicos à todos que nos rodeiam, inclusive gentios. Pela graça de Deus, temos métodos diversificados de ensino bíblico. O Espírito Santo tem despertado vidas para darem ênfase a esse ensino.

Historicamente, na Idade Média, houve algumas barreiras religiosas por parte da Igreja Romana e impregnavam ideologias amedrontadoras àqueles que liam a Bíblia: ”Dizia-se que quem lesse a Bíblia ficava doido”. Felizmente, houve um despertamento progressivo desde que Deus levantou M. Lutero, o reformador, para propagar a Bíblia às nações com muita veemência.

Compreender a origem, propósito e alcance da Bíblia é condição indispensá­vel a rodos quantos buscam compreender a boa, santa e agradável vontade de Deus, a fim de estarem habilitados para roda boa obra (2Tm 2.15). Assim como o  corpo físico necessita de alimentos e proteínas, também, o nosso espírito ne­cessita de alimento espiritual e esse alimento é o estudo pessoal da Palavra de Deus (SI 1.1-3). Seria interessante fazer uma autoavaliação e verificar quanto tempo do dia, estamos dedicando ao estudo pessoal da Palavra de Deus. Jesus, disse: “nenhuma hora pudeste ve­lar comigo?”(Mt 26 40b).

É nosso manual — A Bíblia é o único manual do crente na vida cristã e no trabalho do Senhor (2Tm 4.13 ), pois fomos salvos para servi-lo (SI 100.2; Ef 2.10). Sendo a Bíblia o livro-texto do cristão, é de capital importância manejá-la bem para que haja um eficiente desempenho na missão pessoal de cada crente (2Tm 2.15 ”Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro…“).

É o instrumento que o Espírito Santo usa — A Bíblia é o instrumento do Espírito Santo (Ef 6.17). Se em nós houver abundância da Palavra de Deus, o Espírito terá o instrumento com que operar (CI 3.16). É preciso, pois, sempre meditar nela (SI 1.2; Js 1.8) e deixar que ela domine todas as esferas de nossas vidas, nosso pensamento, nosso coração e assim molde todo nosso viver diário (Fp 4.8).

É para enriquecer espiritualmente a vida do cristão — Essas riquezas vêm pela revelação do Espírito (Ef 1.17). O leitor que procurar entender a Bíblia somente através do intelecto, ou achismo, muito cedo desistirá da tentativa. Só o Espírito de Deus conhece as coisas de Deus (2Co 2.10). Um renomado expositor cristão afirma que há 32.000 promessas na Bíblia toda! Entre as riquezas derivadas da Bíblia está a formação do caráter ideal, bem como a formação da vida cristã (2Tm 4.8).

Conclusão

Podemos reiterar que a Bíblia é o maior manual de ética de todos os tempos. Nenhum outro texto irá superá-la, pois é a Palavra de nosso Deus, a revelação de Deus à humanidade. Tudo que Deus quer para o homem ou requer do homem e que o homem precisa saber espiritualmente da parte de Deus, quanto à sua redenção, conduta cristã e fidelidade eterna está revelado na Bíblia. Deus não tem outra revelação perfeita além do Livro divino. O Autor da Bíblia é Deus, seu real intérprete é o Espírito Santo, e o tema central é o Senhor Jesus.

  Glossário

  • Vilipendiar: Desprezar, repelir
  • Habilitado: preparado, disposto
  • Renomado: conhecido

[1] (1892–1971) foi um teólogo reformado americano, especialista em ética, comentarista de política e assuntos públicos e professor

3. Ética cristã na conduta diária

“Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos”. Tg l.22

Verdade aplicada

O comportamento ético do crente depende de seu cumprimento à Palavra de Deus.

Objetivos do estudo

  • Discutir a ética cristã face à realidade da vida diária.
  • Embasar o comportamento do crente na Palavra de Deus.
  • Ensinar a ética cristã à luz da Bíblia Sagrada

Leitura efetiva

  • Tg 1.19-25

Leituras eletivas

  • Seg.: Sl 7.14
  • Terça: Pv 12.17
  • Quarta: Jo 8.14
  • Quinta: Fp 4.8
  • Sexta: 1Co 5.8
  • Sábado: Fp 2.15

A realidade do desregramento moral e a corrupção avassaladora em todos os escalões da sociedade, bem como, a deterioração da família e a falta de discernimento que alguns cristãos manifestam em relação ao bem e ao mal, ao certo e ao errado, atestam a importância que devemos dar à ética em nossas vidas (Mt 7.12).

Além dessa realidade, a Bíblia está repleta de ensinamentos de natureza ética para orientar os servos de Deus em sua maneira de se comportar em todas as situações. Podemos crescer na ética comportamental, gerando cobranças de posturas éticas em nosso meio cristão e a nós mesmo.

Nossa sociedade está impregnada de conceitos alicerçados no ”relativismo ético”. Foram os céticos (Séc. III a.C.), adeptos da posição filosófica que sus tentava a impossibilidade de conheci mento, que estabeleceram o ponto de partida para a introdução do relativismo na ética.

O que o ceticismo[1] fez foi salientar o caráter relativo do bem e do mal? Procurou destituir a ética de qualquer caráter normativo, ou seja, regras fixas a serem cumpridas, estabelecendo critérios baseados na situação e mesmo nas pessoas para a definição do certo e do errado (Rm 3.4).

A ética é algo eminentemente prático, ação. A este fato não deve haver melhor escritor bíblico para embasa-la do que o livro de Tiago. Ele foi o autor de um dos textos mais preciosos, diretor e práticos da Bíblia (Tg 1.1). Ao lado de Provérbios a Epístola de Tiago é o que mais se relaciona com o cotidiano da vida humana (Tg 4.1). Portanto ele fala de situações do dia-a-dia, das relações interpessoais, da vida religiosa, do comportamento e do testemunho (Tg 4.15-16). Estas coisas compõem a nossa existência, e constroem a nossa trajetória, seja para o bem ou para o mal. (Lc 1.79 “para iluminar aqueles que estão vivendo em meio às trevas, e guiar nossos pés no caminho da paz”). Verificamos que o tipo de comportamento ou atitude corrigíveis em nossos dias quando instituídos como lei, moral ou ética, seja por normas firmadas na Constituição ou em qualquer outro código de ética, são desrespeitados em função da vontade do indivíduo e de um suposto benefício ou prazer decorrentes desta transgressão. Assim também são os cristãos no fato dos ensinamentos bíblicos. (Pv 28.4) Isto está presente no dia-a-dia do ser humano e compromete a questão da equidade (Pv 18.16; 19.6). “Tudo isso faz parte da chamada hipocrisia contemporânea”. — Por exemplo: o ato de subornar geralmente se mostra eficaz. Essa observação de um comportamento humano corrupto é feito sem se passar julgamento moral. (Pv 17.8 “Pedra mágica é o suborno aos olhos de quem o dá, e para onde quer que se volte terá seu proveito”)

É nos aspectos fácil de entender da vida diária que precisamos aprender a frutificar (Mt 7.16). Exatamente porque será o somatório das atitudes, comportamentos condizentes, gestos e palavras que vai traçar o nosso perfil perante o mundo (Mt 5.13,14). As pessoas irão cobrar-nos pelos pequenos deslizes, esquecendo-se do conjunto de nossas vidas. Podemos evitar isto frutificando no comportamento ético (Tg 1.22,23).

O mundo precisa de pessoas que falem com exatidão: nem mais nem menos (Mt 5.39), apenas o necessário para a edificação ou advertência, quando for o caso. Tiago usa a expres­são: “tardio para se irar” (Tg 1.19). Ninguém deveria ser precipitado no “irar-se” (Tg 1.20). Quando mais se puder postergar a ira, melhor. Acessos de ira não ajudam ninguém e não constroem nada de bom (Ec 7 .9). O texto básico deste estudo trata de questões relativas à prática da Palavra de Deus, o agir com sabedoria, condenando qualquer comportamento duvidoso que apresente incoerência entre fé e prática (Tg 1.26). Para nós, a Bíblia é a fonte única de autoridade no tocante a revelação escrita, por isso usamos a expressão: “única regra de fé e prática” (Gl 6.16). Quando controlamos nossas emoções estamos elevando sobremodo importante à vida do crente. Muito da nossa quebra de valores e princípios éticos decorre de situações de exaltação e de descontrole emocional. São agressões verbais, xingamentos, palavras duras, agressões físicas, exacerbações sensuais e práticas comprometedoras que caracterizam a “aparência do mal” (1Ts 5.22; Rm 12.9).

O servo do Senhor deve ser sóbrio e moderado ( Gl 5.22-23), agindo com temperança, tendo sempre o controle de si mesmo, o que é demonstração da presença do Espírito em sua vida. (1Pe 2.23 “pois ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente”)

Resistir é imprescindível. Despojando-se das ofertas tentadoras do mundo é difícil. Não há área mais susceptível a fracassos na vida do crente do que a do comportamento ético nesta área(Ef 5.8). É por isso, que mesmo aqueles cristãos aos quais reputamos por sólidos em sua fé, bem alicerçados doutrinariamente, muitas vezes fracassam (Sl 37.24). O “inimigo” sabe disso e atua na concupiscência dos olhos ou a soberba da carne e vai minando lentamente a resistência espiritual dos incautos, oferecendo sugestões como “ceva para pescar”. Por isso, o apóstolo Pedro recomenda presteza, prontidão e prudência, pois o nosso adversá­rio, “o Diabo, anda em derredor, rugindo como leão, e procurando a quem possa tragar” (1Pe 5.8).

Na Epístola de Tiago também trata de questões práticas da vida religiosa (Tg 1.22-26). Ele procura estabelecer a necessidade de associação entre o que se diz crer e o que de fato anda se praticando por aí. É como se Tiago estivesse nos alertando da impossibilidade de dividir a vida em compartimentos estanques[2]. Não tem jeito, precisamos importar no nosso interior a Palavra de Deus, de modo que todo o nosso ser, fala e agi. Desse modo está atitude irá corresponder à nossa declaração de fé (1Co 10.31-33).

Sendo cumpridores, não somente ouvintes — A primeira adver­tência reporta à necessidade de sermos “cumpridores da Palavra e não somente ouvintes” (Tg 1.22). Esta advertência faz menção a um dos sérios problemas da humanidade: conhecer intelectualmente, mas não assimilar de coração. Tiago diz que aquele que não é “cumpridor”, sendo um mero “ouvinte” da Palavra, está enganando a si mesmo.

Sendo ético na religião verdadeira Tiago define o que considera ser a religião “pura e imaculada diante de Deus” (Tg 1.26-27), principiando por descrever o que seja a ”religião vã”, que na qual é a religião daquele que “cuida ser religioso”. Ele não está descartando a sinceridade da pessoa, pois ela age pensando que está fazendo tudo corretamente. No entanto, sua vida religiosa está calcada em equívocos. Aqui podemos ver não somente os idólatras, esotéricos e espiritualistas que praticam com sinceridade sua religião, mas também crentes que não praticam e estão contrariando a vontade de Deus (Ap 22.15).

Livrando-se da corrupção do mundo — Provavelmente, a forma como a “corrupção do mundo” se apresentava nos dias de Tiago seja bem diferente das formas como se apresenta hoje (Tg 1.27ss “e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo”). O princípio, porém, é o mesmo, pois a “corrupção do mundo” hoje se nos apresenta em forma de pornografia, indecências, subornos, menosprezo ao semelhante, omissão no cumprimento dos deveres de cidadania. O crente que se esmera em praticar uma religião “pura e imaculada” diante de Deus foge destas coisas (1Tm 6.11), pautando sua vida nos princípios éticos cristãos.

Tiago nos propõe uma vida cristã pautada pelo uso da sabedoria (Tg 1.5) e por uma vida coerente, pela prática da religião verdadeira, consequentemente, se viver um cristianismo atraente. E aí, devemos observar os desafios e avisos para o nosso próprio bem (1Co 10.11,12).

Não podemos ser ingênuos em relação à maldade presente em nossa era (2Ts 2.7). Quando entendemos esta realidade, nos equipamos para não incorrermos nos mesmos erros (Ef 6.11). Um cristão autêntico cumpridor da ética cristã deve ter discernimento dos fatos. Esse discernimento sobressai através da Palavra e a obediência acumulada em seu coração. pois “o temor do Senhor é o princípio de toda saber… ” (Pv 1. 7), reconhecer a realidade é impriscindível. Devemos oferecer resistência paranão entrarmos no ”jogo” do mundo (Rm 12.2). Em muitas instâncias da vida moderna há um jogo sutil de sedução, corrupção, suborno e favorecimento ilícitos, que sabemos muito bem, que somos quase que influenciados a entrar nele. Como crentes, precisamos estar dispostos a não nos contaminar com este estado de coisas. (Dn 1.8 “Resolveu Daniel, firmemente, não contaminar-se com as finas iguarias do rei…”)

Em seu livro “Ética Cristã”, Milton Rudnick, adverte: “As pessoas insistem em aprovar certas atitudes e atividades, embora elas sejam claramente identificadas como pecado nas Escrituras”. Homossexualidade, autoafirmação, egocentrismo, hedonismo[3], etc., estes são alguns exemplos. Inversamente, virtudes e valores recomendados pela Bíblia, tais como castidade, amor e renúncia, são desprezados por muitos, dentro do mesmo grupo de pessoas e até na comunidade cristã. Coerência e compreensão em nossa profissão de fé é resultado de se afastar das mazelas.

Conclusão

Devemos fazer um exame de nossa vida e avaliar o estado em que se encontra: “cumpridor” ou “ouvinte” da Palavra? Procure fazer uma lista dos aspectos em que tem falhado do ponto de vista ético. Peça perdão a Deus e trace metas para enfrentar seus pontos fracos e vencê-los. Desperte-se para a necessidade de frutificar na consciência da cidadania, pois Deus lhe chamou para vencer todas as batalhas, inclusive a que está dentro de nós mesmos, pois a maior vitória que alcançamos é sobre o nosso próprio ego. Não ser egocêntrico!

Glossário

  • Susceptível: variável, sujeito a modificação.
  • Egocêntrico: Diz-se daquele que refere tudo ao próprio eu, tomado como centro de todo o interesse; personalista Temor do Senhor: Esse “temor” não consiste em um terror desconfiado de Deus, mas antes, é o respeito e a adoração

[1] A palavra ceticismo vem do grego, sképsis, que significa “exame, investigação”. Trata-se de uma corrente filosófica que defende que não se pode atingir a certeza absoluta a respeito da verdade, sendo necessário o constante questionamento e investigação sobre os fenômenos que permeiam a existência humana.
[2] Sem fenda ou abertura por onde entre ou saia líquido; tapado, vedado
[3] Doutrina que considera que o prazer individual e imediato é o único bem possível, princípio e fim da vida moral

4. A Ética Cristã no Culto

“Deus é sobremodo tremendo na assembleia dos santos e temível sobre todos que o rodeiam”. Sl 89.7

Verdade aplicada

A reverência devida ao Senhor faz parte da Ética Cristã exarada nas Sagradas Escrituras.

Objetivos do estudo

  • Descobrira importância do culto a Deus.
  • Salientar a necessidade da reverência no culto.
  • Envolver o crente no pro­cesso ético da adoração a Deus.

Leitura efetiva

  • 1Co 14.26-30

Leituras eletivas

  • Segunda: 1Cr 16.29
  • Terça: Sl 93.5
  • Quarta: Sl 132.7
  • Quinta: Hb 12.28
  • Sexta: Ap 4.10
  • Sábado: Ap 22.8

O culto é uma gota de orvalho em busca do oceano do amor divino, é um coração na necessidade em busca do amor, ainda é o filho pródigo correndo para a casa de seu pai. Enfim, é o homem subindo as escadas do altar de Deus. Dada a preciosidade que é o culto, procuremos conhecer suas bases e sua essência, bem como a necessidade da reverência ética do culto.

A confissão da Igreja cristã tem por objetivo principal a glorificação a Deus e alegrar-se nele (SI 122.1). Isto faz do culto o ato mais importante, mais relevante, mais glorioso na vida do homem (SI 84.1-4). Contudo, endagamos; quantos crentes sabe distinguir entre a verdadeira e a falsa adoração? (Jo 4.23.24). Será que você tem cultuado de modo que agrada a Deus? (Hb 11.5 “Pela fé, Enoque foi trasladado para não ver a morte; não foi achado, porque Deus o trasladara. Pois, antes da sua trasladação, obteve testemunho de haver agradado a Deus”)

Palavra que designa adoração

Para alcançarmos uma visão correta sobre o culto cristão, é mister examinarmos alguns termos usados pelos escritores. “Latreía”, cujo significado principal é “serviço” ou “culto”. Denota o serviço prestado a Deus, pelo povo inteiro ou pelo indivíduo. Em outras palavras, é o serviço que se oferece à divindade através do culto formal, ritualístico e através do oferecimento integral da vida. Mt 4.10 “Então, Jesus lhe ordenou: Retira-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a ele darás culto” (Êx 3.12; Dt 6.13;; Lc 1.74; 2.37; Rm 12.1). A adoração cristã se fundamenta na nova aliança, em Hebreus cap., a antiga aliança era o símbolo transitório da nova, superior e eterna, da qual Cristo é o mediador. Está franqueada ao crente a comunhão com Deus, pelo novo e vivo caminho aberto por Jesus Cristo (Hb 10.19-22). Em Hb 13.15a “Portanto, ofereçamos sempre por Ele a Deus sacrifício de louvor”. A nossa resposta confiante reafirma que o Senhor é o nosso auxílio e nos liberta de todas as formas de medo.

Nos requisitos éticos do culto o cumprimento de um ritual não basta para que haja culto. É indispensável à aceitação, por Deus do culto oferecido (Sl 20.3). Deus estabelece condições para aceitar a adoração de homens. (Jo 5.41 “Eu não aceito glória que vem dos homens”)

A ignorância dessas condições ou sua violação transforma o ritual do culto divino em exercício unilateral com sérias consequências para os participantes. No culto devemos alcançar a plena comunhão com Deus, através da fé. (Hb 10.38” todavia, o meu justo viverá pela fé; e: Se retroceder, nele não se compraz a minha alma”)

1) A fé fixa a sua esperança naquele que está para vir, aguardando a sua manifestação no futuro.

(2) A fé aceita o veredito de Deus quanto à justiça.

(3) A fé não retrocede diante do sofrimento.

Conforme A.W. Tozer: O “tédio religioso” sempre foi um dos maiores inimigos do cristão, no que se refere à sua vida espiritual. O tédio é um estado mental resultante do esforço para manter interesse por uma coisa pelo qual não temos o mínimo interesse. Este fato tem levado a Igreja, em nossos dias, a oferecer certos atrativos ao povo, no que tange ao culto.

O culto é necessário, pois tem por finalidade o homem (Êx 19.17). No culto, o homem acha a razão da sua existência, pois ele foi criado para adoração (Sl 96.9). O fim supremo e principal do homem é glorificar a Deus. Fora da posição de adorador de Deus, o homem não encontra o sentido para vida (1Co 10.31; Rm 11.36). O culto foi instituído e ordenado por Jesus Cristo. Quando a Igreja se reúne para louvar, orar, pregar a Palavra e celebrar, ela simplesmente o obedece (At 1.8; 1Co 11.24,25; At 20.7). A essência do culto esta em meio às múltiplas maneiras de cultuar, há um elemento imprescindível à adoração: o amor.

A essência da adoração é amor. É totalmente impossível adorar a Deus sem amá-lo. E Deus nunca se satisfez como menos que “tudo”: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda atua alma e de toda a tua força” (Dt 6.5). “Sem o incentivo do amor por Deus, o culto não passa de palha, pura casca, isento de qualquer valor. Pode até se tomar em culto a Satanás” (Russel Shedd).

A adoração também envolve o exercício da mente — Ação intelectual de adoração. A palavra “Dianóia“, em grego, significa a capacidade de pensar e refletir religiosamente (1Jo 5.210; Ef 4.18; Mt 24.15). Este entendimento é dádiva divina (Lc 24.25; Ef 1.17,18). Portanto, a adoração deve ocupar a mente, de maneira a envolver a meditação e a consciência do homem. Em Romanos 12.2, Paulo estabelece que o culto deve ser racional “logiken latréia”. A atitude mental do crente deve ser determinada e remodelada pelo conhecimento do evangelho, mediante o poder do Espírito e pelos interesses da vida por vir, e não pelas modas passageiras desta época.

São muitas as bênçãos que podemos receber de Deus durante o culto, mas a apropriação de tais bênçãos deveria ser o objetivo de todos quantos participam do culto. A maneira correta de participarmos do culto deve ser com espírito de reverência. “…sirvamos a Deus agradavelmente com reverência e santo temor” (Hb 12.28s).

Sirvamos a Deus de modo agradável. A gratidão é derivada do conhecimento de que os nossos nomes estão escritos nos céus (Lc 10.20) e da nossa experiência do “dom inefável” de Deus — Jesus Cristo (2Co 9.15). Reverência e temor provêm de uma correta apreciação da pessoa de Deus. Um culto agradável inclui estes motivos.

Temos muitas razões para reverência e Servimos a um reino de poder. Esse reino é impossível de ser abalado. Do grego “asauleutós”, significa irremovível. Não existem sistemas, ordens ou poderes que superam esse reino; pois Ele é o Senhor dos senhores. A bondade e a severidade de Deus são coordenadas.  “Pelo que, tendo recebido um reino que não pode ser abalado, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus agradavelmente com reverência e piedade” Hb 12.28. Atitudes reverentes são necessárias, pois que, durante o culto, mantenhamos uma atitude reverente com o local de adoração, uma vez que Deus está presente. “Pois onde se acham dois ou três reunidos em meu nome, aí estou no meio deles” (Mt 18.20). Temos, neste texto, a garantia da presença do Senhor em qualquer reunião em que o seu nome seja cultuado. E, uma vez que Deus se faz presente em nossas reuniões, necessário se torna que o reverenciemos, ou seja, “obedecer; acatar, cumprir”.

Indicações bíblicas para um culto reverente sem a verdadeira adoração a Deus, não há verdadeiro culto (Jo 4.23). Na presença do Altíssimo demonstremos, com toda sinceridade de alma, a nossa profunda humildade e reverência em face da sua santidade absoluta (Is 65). Evidenciemos nosso amor e dedicação a Ele, e demonstremos confiar no cuidado que Ele tem para conosco (1Pe 5.7). Sem que o nosso coração esteja a transbordar desses profundos sentimentos em sua presença, não estaremos cultuando verdadeiramen­te ao nosso Deus.

O verdadeiro culto é contrastado com o culto regulado pelas disposições temporárias da lei. Os aspectos cerimonial e sacrificial da lei não eram falsos; eram temporários e provisórios. O culto “em espírito” é o culto no Espírito Santo. Ele continua a obra começada por Jesus (At 2.33). Marcas proeminentes da era do Espírito são a remoção da barreira e a capacidade de os cristãos adorarem sem necessidade de templo de qualquer espécie, porque somos templo para o Senhor.

Há, infelizmente, muitos crentes que não sabem manter uma atitude correta perante o Senhor, no seu santuário. Esquecem-se de que o culto é o encontro de Deus com o seu povo (Hc 2.20), é necessário reverência. São meros assistentes e por conseguinte, jamais chegam as bênçãos que o Senhor reserva aos que realmente o cultuam em espírito e em verdade (At 2.43). A falta de atenção é o mesmo que falta de consideração, descortesia. Miguel Rizzo, referindo-se ao culto divino, escreve o seguinte:

“É preciso que haja ambiente próprio para que ele seja proveitoso. Isso é fácil de se entender. A atitude mental de quem cultua a Deus é diferente daquela de uma pessoa que esteja numa festa tumultuosa, entregando-se à alegria mundana” (Dn 5.2,3).

Observamos, infelizmente, a falta de reverência em muitas de nossas igrejas, não só por parte das crianças, mas de pessoas adultas na idade e que deveriam ser também adultas no comportamento cristão (1Co 13.11). Entretanto, estes, por não terem ainda atingido a maturidade espiritual é que são assim irreverentes (Lv 26.2). As movimentações desnecessária no recinto do culto leva a falta de contemplação da Palavra.

Outras atitudes irreverentes temos o exemplo dos crentes de Corinto. Eram tão irreverentes, durante o culto, que chegavam até a se embriagar durante a celebração da Ceia do Senhor! Daí a enérgica advertência do apóstolo Paulo: “Por causa disto há entre vós muitos fracos e doentes, e muitos que dormem” (2Co 11.30).

Ainda hoje o pecado da irreverência é o responsável pela debilidade espiritual de grande número de membros de igrejas. O crente que não mantém uma atitude correta perante Deus durante o culto, não cresce espiritualmente, além do que prejudica sensivelmente a realização, com sua frieza e indiferença (1Co 14.15).

Conclusão

Todo culto é acompanhado da ética cultual. Nela se exige que saiba o que significa cultuar a Deus. A conscientização deste fato é primordial. Isso gera consequentemente a exigência da reverência peculiar do verdadeiro adorador e, por conseguinte, descortina e rechaça a irreverência, repugnada pelo próprio Deus.

Qualquer um de nós pode falhar nesta parte, se não vigiar atentamente durante o culto.

Glossário

  • Pródigo: Que distribui em excesso.
  • Ritualístico: Próprio de ritual

5. A Ética cristã na família

“Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra”. Gn 12.3

Verdade aplicada

A família, bênção de Deus, deve viver de acordo com as regras áureas da Palavra de Deus.

Objetivos do estudo

  • Destacar a família como plano de Deus para a humanidade
  • Revelar a necessidade da ética para a convivência familiar
  • Enfatizar a influência da família cristã na sociedade

Leitura efetiva

  • Sl 128.1-6

Leituras complementares

  • Segunda: Am 3.2
  • Terça: Gn 28.14
  • Quarta: Mc 10.9
  • Quinta: Ef 5.28
  • Sexta: Hb 13.4
  • Sábado: 1Pe 3.7

Apesar dos conselhos expostos na Palavra de Deus, é público e notório que a família, indistintamente, passa por uma das piores crises, desde o seu estabelecimento por Deus no Éden. Ignorar esta realidade é dar as costas às evidências. Por todos os meios disponíveis, as forças venenosas do mal têm combatido esta sagrada instituição com o fim de prejudicar o plano divino para humanidade. Entre os elementos da sociedade, a família é o mais importante, porque nela, o indivíduo recebe as primeiras instruções para o cumprimento da missão neste mundo. Assim sendo toda base ética para vida recebe-se da família.

Um dos princípios básicos que temos é que a família, célula máter da sociedade é instituição divina (Gn 2.23,24). “Família é uma reunião de pessoas unidas por laços formando uma pequena sociedade, base da sociedade universal. É a primeira ponte colocada por Deus entre o indivíduo e a sociedade”. Qualquer conceituação sobre família que não esteja alicerçada numa origem divina desloca o seu foco do aspecto mais importante, que é o espiritual (1Pe 3.1-7).

Sabemos que foi Deus quem constituiu a primeira família. Mais do que cri­ar o homem e a mulher (Gn 1.27), Deus os fez um para o outro, e isto, a partir da necessidade de achar companhia para o homem: “Não é bom que o homem esteja só … ” (Gn 2.18).

Ao aprofundarmos nosso estudo na narrativa bíblica, podemos observar que Deus apresenta Adão à sua companheira, formada a partir de sua própria costela: “e a trouxe a Adão” (Gn 2.22). Essa ação divina evidencia o propósito de Deus em relação à instituição familiar. É fundamental que todo casal que deseje construir uma família sólida e próspera siga esse modelo, buscando a participação de Deus em seu relacionamento (Salmo 128),receberá a bênção de uma graça divina.

O sistema de convivência do casal é a parceria, o companherismo, etc. Vivemos numa sociedade masculinizada e materialista, onde, tendenciosamente os homens têm maltratado, explorado e humilhado as mulheres. Isto nunca fez parte do projeto de Deus para a família.

O próprio fato de Deus ter tomado uma costela do homem para dela formar uma mulher (Gn 2.2), se por um lado revela que a hierarquia divina prevê uma liderança do homem (Ef 5.22-33), por outro demonstra que o objetivo primordial é o bem comum, principalmente da mulher.

Temos um roteiro de Deus para a formação da família. Os três verbos empregados em Génesis 2.24: deixar; unir e tornar-se, nos fornecem os passos para a constituição da família conforme os planos de Deus. Os jovens precisam deixar os pais para formarem o seu lar. A perpetuação desses vínculos muitas vezes tem sido nociva para famílias jovens. O passo seguinte é a união, através do casamento. A terceira etapa diz respeito à comunhão mais íntima da relação conjugal, que é o ato sexual: ”Tomar-se uma só carne”, faz referên­cia à nova realidade que somadas as partes faz nascer com o casamento.

A família em que os membros são polidos exerce vasta influência para o bem (Gn 12.3). Outras famílias notarão os resultados conseguidos para um lar assim, e seguirão o exemplo dado, guardando, por sua vez, o lar contra as influências satânicas (Mt 12.25). Uma família bem ordenada, bem disciplinada, fala mais em favor do cristianismo do que todos os sermões que se possam pregar. Não podemos passar por esta vida senão uma vez; tiremos, pois, então, o melhor proveito dela (Ec 5.18,19). Entretanto, a tarefa a que somos chamados não requer riquezas, posição social, nem grandes capacidades. O que se requer é um espírito bondoso e desprendido, e firmeza de propósitos (Mt 7 .12). Uma luz, por pequena que seja, se está sempre brilhando, pode servir para acender muitas outras (Mt 5.15).

Quando nossa própria casa for o que deve ser (SI 128.3), não deixaremos que nossos filhos cresçam na ociosidade e indiferença para com os reclamos de Deus em favor dos necessitados que os rodeiam (Pv 21.13 ). Como herança do Senhor, eles estarão habilitados para empreender a obra social. De tais lares resplandecerá uma luz que se revelará em favor dos ignorantes, levando-os à fonte de todo conhecimento. Um poderoso argumento para conduzir-nos.

Precisamos de lares radiantes e de cristãos felizes (Sl128.2). Achamo-nos demasiados fechados em nós mesmos. Por vezes, as palavras bondosas e animadoras, a formosura do rosto alegre, são retidos de nossos filhos (CI 3.21). A presença do Espírito Santo na família gera condições de vencer obstáculos intransponíveis, e isso se constitui um influencia poderosa entre nossos vizinhos. Lares felizes influenciarão vizinhos.

A ética na família inicia-se com uma boa comunicação que é o intercâmbio de pensamentos, ideias, sonhos, preocupações, planos, alvos e realizações, visando o entendimento (1Pe 3.7). Isso exige conhecimento das reações de um para com o outro. O diálogo deve levar a um entendimento, e não a uma discussão interminável (Am 3.3).

Os deveres do marido Os maridos devem amar a esposa, com o mesmo amor com que Cristo amou a Igreja (Ef5.25). Ele amou voluntariamente, profundamente, sacrificialmente e com amor eterno. O marido não deve se irritar com ela (Cl 3.19), isto quer dizer que os maridos não devem ficar impacientes com suas esposas, nem provocá-las ou encolerizar-se contra elas. Situações como essas, são difíceis ao homem natural, mas para o transformado é possível (Cl 3.19). O homem que ama a sua esposa ama a si mesmo.

Os deveres da esposa Biblicamente, a esposa deve ser submissa[1] ao marido (Ef 5.22): com fidelidade (Ct 4.7), santidade (Ct 4.7), alegria (SI 100.2) e reverência (Ef 5.3b). Deve ser também auxiliadora no sentido afetivo, profissional e espiritual. Assim, se manifestarão nela as qualidades da mulher virtuosa (Pv 31.10).

Os deveres dos pais — Os pais devem ensinar aos filhos o caminho do Senhor (Pv 22.6). Em Dt 6.7, Moisés disse: ” … ensinarás a teus filhos, e delas falarás sentado em tua casa e andando pelo caminho, ao deitar-te e ao levantar­te … “. Assentado em tua casa nos ensina o dever do culto doméstico. Para ensinar, os pais precisam ter autocontrole, paciência, perseverança e boa vontade.

Uma família sem problemas é um verdadeiro céu na terra, porém, isto é algo inconsistente e inconcebível (Jo 16.33).

Existem problemas normais, inerentes ao próprio viver em suas diversas fases e contextos, para os quais devemos nos preparar (Fp 4.12). Mas há problemas que poderão ser evitados ou enfrentados de maneira mais eficaz se forem detectados, estudados e enfrentados com as armas que dispomos do ponto de vista espiritual (2Co 10.4).

Um dos fatores que muito ajudam na construção de uma família onde os seus membros se entendem e discutem os problemas internos, é o diálogo (Rm 12.13). Dialogar não é digladiar, mas sim partilhar ideias e receber contribuições. A franqueza e interesse no sucesso dos empreendimentos familiares são importantes para o lar (1Tm 5.4). Os membros da família devem demonstrar interesse uns pelos outros — Há aquelas pessoas que têm tempo para todo mundo, menos para os que estão mais próximos. Jesus deixou-nos o mandamento de “amar ao próximo” (Mt 22.39). Quem está mais próximo do que os nossos familiares?

Lembremo-nos do que Paulo recomendou: “Façamos bem a todos, mas principalmente aos domésticos da fé” (Gl 6.10), família e a igreja. Se nossos familiares são crentes, mas do que nunca devemos zelar com carinho por eles (1Tm 5.8).

Conclusão

Não se discute a importância da família, pois isso já está estabelecido entre nós. Deve-se, porém, avaliar até que ponto o valor que damos à família tem sido correspondido em dedicação, amor e zelo na preservação desta instituição. O nosso empenho em prol da família começa na própria constatação do que se passa em nossa sociedade atual. Novas formas de relacionamentos entre os sexos têm sido adotadas, destoando completamente daquilo que os cristãos entendem ser o modelo de família. Por isso, entender a função ética da família nesses últimos dias é de capital importância, pois somos o sal das terra e a luz do mundo.

[1] Submissão quer dizer  à grata aceitação do cuidado e da liderança por parte de seu marido

6. Ética Cristã e a Espiritualidade

“Porem o homem espiritual julga todas as coisas, mas ele mesmo não é julgado por ninguém”. 1Co 2.15

Verdade aplicada

O crente espiritual tem o dever com a ética cristã, uma vez que ele discerne bem tudo.

Objetivos do estudo

  • Analisar a importância da espiritualidade para o crente.
  • Mostrar a necessidade da ética na vida espiritual.
  • Ressaltar a grandeza do judaísmo, berço do cristianismo.

Leitura efetiva

  • Tg 1.19-25

Leituras complementares

  • Segunda: Rm 12.9-15
  • Terça: Rm 1.11 /1Co 2.13
  • Quarta: 1Co 14.37
  • Quinta: Gl 6.1
  • Sexta: Cl 3.16
  • Sábado:  1Pe 2.5

A exegese do texto Romanos 12.9-21 propõe uma reflexão teológica, pois ela vem de encontro a um dos temas mais discutidos da teologia bíblica. A ética e a espiritualidade cristã têm ocupado bastante espaço no meio protestante de tal forma que, estudos e decisões têm sido tomada na tentativa de auxiliar o crescimento na fé e no conhecimento de Cristo Jesus.

Nessa temática, portanto, surge a necessidade de repensar o “modus vivendi” da Igreja hoje. Rever a prática da espiritualidade e da ética que será encarada a partir da compreensão bíblica doutrinária. Este estudo não esgota o assunto, mas esmera-se pela síntese de uma práxis[1] ética e de espiritualidade fundamentada na comunhão, no serviço e na humildade (Fp 2.3). Pois, enfim, a eclesiologia[2] propõe uma ideia ética saudável à comunidade cristã, senão aquela voltada para o próximo (Lc 10.27) que sustentada pelo Espírito Santo, nos leva a conhecer mais intimamente a Cristo através do nosso próximo.

Temos o amor ao próximo, dito por Jesus como 2a Lei Áurea que é o fundamento de toda ética e espiritualidade cristã (Mc 12.31). Essa afirmação é encontrada tanto no Antigo como no Novo Testamento. Trata-se de uma temática tão relevante no contexto religioso e social das etnias que, somente a partir de uma práxis contextualizada, a justiça se torna o conteúdo de toda a posição cristã (Fp 4.5). Afirmamos que a espiritualidade nasceu no judaísmo, pois foi ao povo de Israel que Deus se revelou (Ex 20.18-20). Deus formou este povo e fez uma aliança eterna com ele para que o mesmo e seus descendentes o adorassem. Em troca, faria a sua descendência se multiplicar como as estrelas no céu e como a areia do mar (Gn 12,2; 22.17). Este é um compromisso ético!

Temos a prática da espiritualidade judaica que deu-se com Moisés no monte Sinai quando recebeu de Deus o decálogo (Ex 20.22). Deus firma mais uma vez sua aliança com Israel (Lv 26.9). É claro que entender a espiritualidade judaica é estar atento ao relacionamento de Deus e o seu povo. Os aspectos visíveis dessa relação podem ser traduzidos quanto ao ouvir e o obedecer ao Senhor, prestar culto e adorá-lo como único Deus (Mc 12.29).

Como a ética cristã pôde nascer antes de Jesus Cristo? João responde, dizendo: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus” (J o 1. 1). Isto significa dizer que a exigência ética, da parte de Deus já existia, mas não era praticada porque dependia de Jesus, Verbo de Deus, vir ao mundo e praticá-la na sua integralidade como assim o fez (1Pe 2.21), obedecendo até a morte (Fp 2.8), e capacitando aos que crêem no seu nome a fazer o mesmo (Jo 13.15). A ética e a espiritualidade só são possíveis na vida comunitária (At 4.34). Quando o Espírito Santo desceu no Pentecostes (At 2.1-4), havia mais de 100 discípulos na casa onde se achavam reunidos, recebendo o Espírito Santo comunitariamente e não individualmente. O efeito da comunhão dos cristãos é descrito em Atos 2.42-4 7: ” … e tinham tudo em comum … partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração”.

A ordem ética de Jesus aos seus discípulos em João 13.14-17 o Senhor Jesus fala aos seus discípulos acerca do que fez por eles e ordena a imitá-lo. Em outras palavras, entende-se que Jesus estaria dizendo: Eu vos ensinei o que é necessário para vos tornardes iguais a mim, filhos de Deus Pai. Aqui está a condição do imperativo ético: “sereis filhos de Deus Pai se praticardes o que o Filho, Jesus Cristo, vos ensinou” (Jo 13.15). Isto não depende exclusiva mente de nós, mas do poder do Espírito Santo em nós (Jo 14.16,17), esta é a ordem para sua Igreja, até a consumação dos séculos.

Após o Pentecostes a igreja de Corinto precisava decidir sobre um grave incidente de devassidão ocorrido entre eles (1Co 5.1). O problema fundamental aqui não era apenas o pecado daquele indivíduo, mas a falha da igreja em Corinto para abordar o pecado — de fato, o senso de orgulho deles ao tolerarem-no. Paulo censura que a comunidade ainda não agiu no problema (1Co 5.2), reivindicando a posição de orientador daqueles irmãos, visto ser ele o pai espiritual dos mesmos (1Co 4.14). Ele fala da ética e da autoridade de admoestar posta sobre a Igreja (1Co 5.3-5).

A compreensão teológica da ética na espiritualidade

Em todas as cartas pastorais e epístolas do NT, encontram-se exemplos de prática da ética e da espiritualidade cristã. É interessante notarmos que uma não vem desassociada da outra. Se há uma ética cristã é porque há uma espiritualidade genuína dirigida e sustentada pelo Espírito Santo, que nos aponta para o viver em Cristo (Ef 5.1-4).

a) A comunhão como fundamento da ética cristã — A comunhão autêntica com Deus só é possível através de Jesus (Jo 1.1,12,14), por Jesus (Rm 3.24), e em Jesus (2Co 5.18,19). A comunhão tem origem na Trindade, e foi expressa na oração sacerdotal de Jesus em João 17.21-23. Esta passagem exprime em síntese que é a comunhão de Jesus com o Pai e que tipo de comunhão Ele quer para os seus servos.

b) A humanização do verbo como uma força ética — Na encarnação do Verbo, Deus se fez homem (Jo 1.14), nesse ato, Deus revela sua solidariedade para com a humanidade (Jo 1.18). Esta manifestação da vida tem sua revelação na graça de Deus (Tt 2.11). Em sua manifestação como Deus humano (Gl 4.4), encontramos a força da ética divina, isto é, Deus respeitando as leis naturais e espirituais.

c) A imagem ética de Deus no homem — Se Deus se torna humano, para que o homem se torne à sua imagem (Rm 8.29), é porque Deus sempre esteve em comunhão com o humano, apesar do homem não estar em comunhão com Ele (Ef 2.12). Essa imagem ética de Deus deve ser refletida em nós a cada dia: “Mas, todos nós, com cara descober­ta, refletindo como um espelho a glória do Senhor … ” (2Co 3.18). Ao colocar em nós sua imagem Deus nos reveste de grande responsabilidade espiritual. (Ef 5.8 “Pois, outrora, éreis trevas, porém, agora, sois luz no Senhor; andai como filhos da luz”) Ap. Paulo aqui relata o desejo que os crentes façam mais do que se abster das coisas que trazem a ira de Deus. Eles devem viver como “filhos da luz”.

Desfrutando a benção da espiritualidade cristã

A prática da espiritualidade também é um projeto na vida do cristão (Rm 1.11) para ser confirmado. Os registros bíblicos provam-nos que as pessoas mais próximas de Deus eram justamente aquelas que decidiram assumir uma nova personalidade espiritual (Ef 4.22-24). Pertencer a Cristo na adoção de uma nova vida em repúdio à antiga. A ilustração é o ato de tirar roupas desgastadas e vestir outras novas. Segundo 1João 5.11,13, o crente nascido de novo passa a desfrutar de um relacionamento estreitamente ligado por afeição e confiança.

a) A espiritualidade e a nossa consciência — A Bíblia diz em Rm 6.4, que fomos sepultados com Cristo na morte pelo batismo e a partir daquele momento, passamos a andar em novidade de vida. Isso caracteriza a contínua renovação da espiritualidade que nos foi proporcionada por meio da cruz de Cristo (Gl6.14). Essa renovação, biblicamente, é chamada de ”novidade de vida” (Rm 6.4), e reflete o nosso cotidiano na caminhada dessa espiritualidade.

b) O exemplo do rei Davi — Davi foi alguém que viveu a prática da espiritualidade, consciente de sua responsabilidade diante de Deus (Sl 16.1,2). A maior prova disso é que o próprio Deus o elegeu como sendo o homem segundo o seu coração (Sl 89,20; At 13.22). Tamanha era a honestidade de Davi na sua relação com Criador que, nas suas orações, ele sempre confessava sua inteira dependência do Senhor (Sl 62.1,2).

Diante de tudo isto, nas vontades de Davi havia sua escolha. E é nesse dilema que também estamos suscetível a situações embaraçosas.

c) A correção edifica o crente — Davi foi duramente corrigido por Deus; mesmo assim, através de suas atitudes, parece reunir todas as características espirituais (Sl 51.10-12). O seu amor pelo Senhor era tão grande a ponto de negociar com ele a melhor maneira de redimir o seu pecado (2Sm 24,12,13).

Por que um homem tão cheio de falhas, como Davi, era tão admirado por Deus? Ele tinha um coração quebrantado. (Sl 51.17 “Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus”).

Conclusão

Na Bíblia, vários homens viveram à plenitude da fé e da espiritualidade. Isso, sem dúvida, foi-lhes possível por que decidiram investir na renúncia pessoal em detrimento de uma consciência plena de ética cristã e espiritualidade. Nas misericórdias do Senhor, Davi quando ao falhar por diversas vezes, decidiu depositar todo o potencial de sua confiança. Na verdade, ele alcançou aquilo que lhe parecia impossível. Isso também pode acontecer conosco, em plena era moderna. Nosso Deus é quem nos capacita para exercermos a plenitude da ética e da espiritualidade.

Glossário

  • Repensar: Reconsiderar.
  • Etnias: Origens comuns.
  • Modus vivendi: Maneira de viver
  • Práxis: Atividade prática; ação, exercício, uso

[1] Atividade prática; ação, exercício, uso
[2] Eclesiologia: pertencente ou relativo à igreja, eclesial